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(Rola Rola-brava- Streptopelia turtur)

Constança, uma fulva trintona, foi comprar uma máscara capilar hidratante. Joana colocou sobre o balcão um frasco de compota de abóbora biológica com amêndoa. – Está em promoção, – disse. O patrão queria livrar-se daquele stock quase no fim da validade. Constança recusou: não precisava. – Ora – continuou a empregada – precisa, sim. É adoçada com stevia. A abóbora é rica em vitaminas A,C e E, e potássio, além de ter propriedades antioxidantes. Nutre e retarda o envelhecimento do cabelo. E protege dos danos do sol. Aplica após a lavagem, faz uma pose de 3 minutos e enquanto espera faz esfoliação corporal graças à amêndoa de Foz Côa. E para evitar o desperdício chama a sua amante para lamber o seu doce e goza um orgasmo extra. É 3 em 1!

Constança, vegetariana, cliente habitual da única loja vegana do bairro, achou que Joana tinha andado a fumar erva mais poderosa que o habitual tabaco. Ainda que nova ali, costumava esticar-se na oratória, mas nunca como desta vez. Constança não fez escândalo. Levou a compota e telefonou ao patrão, seu conhecido. Joana não sofreu repreenda nem procedimento disciplinar. Uma semana depois o seu contrato não foi renovado. Quando lhe comunicaram o facto, apenas disse, com desprezo:

– Gente que gosta mais dos animais que de pessoas.

Uns meses depois havia corrida e marcaram uma manifestação junto às portas da praça de touros da cidade. Cerca de 100 pessoas e alguns cães fizeram parar o trânsito, sob vigilância da polícia. Constança compareceu com um cartaz contra o sofrimento animal. O seu olhar e o de Joana cruzaram-se. Aproximaram-se e juntas agitaram concertadamente os seus papelões no ar aos gritos de Cultura sim, tortura, não! , até ficarem roucas e quase despenteadas.

– Queres vir tomar um chá quente?

Constança seguiu-a. Pararam no ecoponto para deixar os cartazes. Joana vivia sozinha com cinco gatos num T1. Entraram para a cozinha. Na mesa, alinhados, estavam três frascos de compota de abóbora com amêndoa e pão integral numa cesta. Depressa o chá fumegava histórias. Tinha uma Pós-Graduação em Filosofia Contemporânea. Nunca conseguira dar aulas. Quando a conversa chegou ao fundo da chávena, Joana pegou num dos frascos e desapareceu, seguida pelos cinco gatos. Constança ouviu água a correr. Olhou. Havia vapor no hall. Foi e abriu a porta recortada a luz. Joana massajava compota no corpo. Constança despiu-se com avidez. Quando entrou na banheira, perguntou, timidamente:

– Como adivinhaste?

 

Tema da semana: A Constança precisa duma máscara capilar mas o teu patrão só quer que vendas compotas de abóbora com amêndoa. Convence-a a escolher a compota para usar.

 

publicado às 15:00

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Arara Vermelha (Ara chloropterus) 

– Apresento-vos o Marquês. É Português. Vai ajudar-nos à festa, mais logo – disse Luísa, retornando à cozinha.

Na sala, os convidados acercaram-se dele mas isso não impediu o Marquês de notar uma pequena encantadora, de verde esmeralda, no extremo da mesa. A curva pronunciada da sua cintura parecia esculpida mesmo à medida da mão de um homem.

Luísa trouxe o bolo de aniversário por si confeccionado para Norberto. Como se tivesse adivinhado os pensamentos do Marquês, conduziu-o e ao seu objecto de desejo até à cozinha. Fechou a porta e a luz atrás dos dois.

A luminosidade das velas entretanto acesas na sala a todos envolveu numa atmosfera aconchegante ao redor da mesa.

– Parabéns a você... – começou Luísa, logo seguida dos convidados.

O aniversariante, de cabelo acinzentado curto e denso, cantava, sorrindo:

– Nesta data querida…

De repente...

– Muitas fe-fe...

...voltou ao princípio.

– Parabéns a você…

Todos riram. Sempre brincalhão. Mas quando ele deixou cair na mesa a faca de cortar bolo que segurava, agarrando-se depois à cabeça, parecendo ter dores, Luísa, exclamou:

– É um AVC! Chamem uma ambulância! Acendam a luz.

Luísa empurrou a cadeira de rodas para onde havia espaço. Examinava-o procurando acalmar-se, acalmando-o. A boca ao lado confirmava-se.

Norberto ficara em observação. Era cedo para prever o futuro. Chegada a casa, acompanhada pela incógnita, deitou-se. Ela sabia que eram necessários mais exames para apurar a causa do acidente isquémico. O cansaço venceu-a.

A sede despertou-a pela manhã. Na cozinha lavou e fatiou laranjas e maçãs na tábua. Cortou os morangos maduros. Juntou tudo num jarro, mais uns bagos de uva branca e um gole de licor de laranja.

Abriu o frigorífico. A garrafa de Marquês de Marialva estava colada à de água gaseificada. Aquele par lembrou-a do seu casamento, um ano e meio atrás. Norberto vestido de castanho mel, ela de verde, ele, enorme, ainda que sentado, ela, uma miúda. A jovem enfermeira, que viera a Portugal de férias, despedira-se depois do Brasil para casar com um velho aleijado e sem dinheiro. Morariam num R/C degradado com vista para a fábrica, origem da reforma antecipada do operário por incapacidade. O amor era aquilo. Não trocaria aquela cabana por outro lugar no mundo se era onde ele queria estar.

Acrescentou o espumante e a água com gás. Misturou. Faltava o gelo. Dois copos. Encheu-os.

– À nossa! – disse. Bebeu um a seguir ao outro. E outro. E outro. Até conseguir chorar.

 

Tema da semana: O Amor, uma cabana… e um frigorífico.

publicado às 15:00

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Águia careca ( Haliaeetus leucocephalus)

À minha frente, na fila, o inconfundível Mercedes-Benz 70K Grosser Offener Tourenwagen está parado na portagem da auto-estrada. IA v 148461. O branco da chapa de matrícula daquele sarcófago negro e cromado fere-me a vista. A capota recolhida deixa ver o casal sentado no banco corrido. Apeio-me do meu híbrido batido e passo por eles a coxear a caminho das cabines da portagem. Espreitei pelo canto do olho para confirmar a suspeita. Hitler e Eva conversavam felizes, alheios ao desconcerto de buzinas que soava à sua rectaguarda num cortejo interminável.

- Hou portageiro? Houlá! Hou!...- chamei, acenando a mão para a cabine branca envidraçada. - Ah, portageiro! Não me ouvis? Respondei-me!

Os sinais luminosos da portagem continuam vermelhos quer para a direcção CÉU quer para a direcção INFERNO. À minha esquerda, as muitas faixas da via em sentido inverso estão desertas.

- Hou lá da portagem, hou lá! Que aguardais? - gritei mais alto, esbracejando agora para o vulto na cabine preta.

Não devia estar aqui. Ainda agora faleci num acidente a caminho de Lisboa. Não era suposto assistir primeiro a um filme da minha vida? Eu e aquele parido do demónio, o Hitler, presos num engarrafamento no purgatório?! Que pena estar morta e não poder publicar esta história no Facebook. Ia tornar-se viral! Nah. Ninguém acreditaria.

- Hou da portagem! - berrei de novo para o portageiro, as mãos ao redor da boca que me sabe a álcool e sangue.- Nom percamos mais maré! Aquele deve servir Satanás, pois sempre ele o ajudou, - bradei, apontando Hitler, que, sentado ao volante, afastava da testa a franja de cabelo.

Impaciente, a cabeça dorida, pedi o livro de reclamações. O portageiro desceu da cabine e veio entregar-mo, contrafeito. No meu carro encontro uma oportuna esferográfica caída no tapete. “Exmo. Sr. Deus”, - escrevi. - Houve um erro do sistema. Hitler, de quem já deve ter ouvido falar, não devia estar aqui. O purgatório está engarrafado. As pessoas estão mortinhas por chegar ao destino mas o trânsito parou. O portageiro nada faz. Como entidade superior, peço que interceda para repor a normalidade”.

Não me lembro de tudo o que aconteceu depois. Na via da RESSURREIÇÃO, aberta ao mundo nessa longa noite, vimos os sinais luminosos ficarem verdes. O ruído de milhares de motores em trânsito e buzinas em festa abafou o da nossa fila única.

 

Não ganhei o céu. Nem Hitler.

 

Tema da semana - Estás na fila para o purgatório e Hitler está à tua frente. Ninguém o quer aceitar e a fila não anda. Escreve a tua intervenção para convencer um dos lados a aceitá-lo

 

publicado às 15:00

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Corvo ( Corvus corax)

Dois levaram-na até à mesa quadrada e forçaram-na a sentar na cadeira. À sua frente, sentado noutra, o homem vendado sorria de boca fechada. O Outro, que não mais pararia de andar à volta deles como um cavalo num redondel, acercou-se dela pelas costas e, puxando-a pelo queixo com uma mão, penteou-lhe os cabelos para trás com os dedos da outra, quase carinhosamente.

- Sim ou não, Beatriz?

Silêncio.

- Arménio, continua.

O homem ergueu a mão direita acima da cabeça grande.

- Ouço dizerem que torturamos pessoas. Fico triste. Nós apenas as convencemos a dizer a verdade. Beatriz estremeceu.

- Vamos. As duas mãos sobre a mesa. Dedos bem abertos. Olha, assim, como estrelas do mar. Já falámos disto antes.

Em Beatriz nem os olhos pestanejam.

- Vamos lá, Beatriz. Não me obrigues a usar de novo a força.

Beatriz cumpre. Levanta os braços que lhe pesam toneladas e deslisa-os sobre a superfície de madeira. Então o homem vendado baixa o seu braço sobre a mesa e um estrondo ecoa pela sala mal iluminada. Ela sentiu o choque entrar-lhe pelas mãos. Todos os ossos tremeram dentro de si. O coração queria fugir dela, fugir dali. De novo o impacto. Impossível gritar, respirar já doía que bastasse. Os nós dos dedos alteavam-se-lhe, mas as suas cabeças estavam coladas com medo à superfície da mesa marcada e suja. O enorme martelo imobilizara-se entre o indicador e o polegar.

Um breve alívio.

À pergunta de sempre Beatriz deu a resposta de sempre.

- Ouviste, Arménio? A Beatriz disse que não. E agora?

Arménio sorria como se nem estivesse ali. Limitava-se a erguer o braço telecomandado e a deixá-lo cair pesadamente na mesa, uma e outra vez.

Os Dois vieram buscá-la.

Beatriz sentou-se na cama a chorar. Soprou ar quente nos dedos feridos. Jamais voltaria a conseguir tocar piano como dantes. Adormeceu fetal, de mãos recolhidas nas axilas.

Uma mosca insistente batia na vidraça. O sol nascera. Beatriz culpou-a por ter despertado mais cedo para o horror. O insecto pousou na mesinha de cabeceira. Ela desferiu um golpe que sobretudo a magoou. Daí a pouco os Dois voltaram para levá-la à arena.

- Beatriz. Sou paciente, como já deves saber. É uma pergunta simples. O Arménio só está aqui para te ajudar a lembrar.

O braço no ar. Um baque seco. A lâmina do cutelo aterra bem longe da mão nervosa de Beatriz.

 

Tema da semana:  A Beatriz disse que não. E agora? 

(Publicado a 04/10/19 no blogue Palavras Cruzadas)

 

 

 

 

publicado às 18:27

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Rabirruivo preto (Phoenicurus ochruros)

2007. Estavam juntos há 453 dias, 2 horas e 34 minutos. Ela adormecera à sombra do guarda-sol, ele banhava-se de luz, os corpos a desenharem um ângulo recto. Os pés de Isabel descansavam sobre o azul dos calções de praia dele. José soerguera a cabeça ao assobio do nadador-salvador. O seu olhar encalhara nos pés morenos dela.

Uma nuvem tapa o sol e o ar arrefece. A sombra percorre vagarosamente o areal. O apito soa de novo. José ergue o tronco apoiando-se nos cotovelos. Um incauto que mergulha com a bandeira vermelha hasteada. Ajeita-se para se deixar ir ao encontro da toalha quando repara nela. Como é que nunca a tinha visto? O banhista sai das ondas de calções colados ao corpo e o nadador-salvador aproxima-se. José não os consegue ouvir e a sua atenção retorna ao pé de Isabel.

Até àquele momento imaginava-se capaz de navegar o corpo daquela mulher de olhos fechados. Num segundo, o pé direito de Isabel envolvera aquele final de tarde num mistério. Talvez um acidente em criança? Estranhava que ela nunca lhe tivesse contado. Uma queda? A sua pequena Isabel beneficiava-se do uso diário de sapatos arriscados que calçava com a leveza de uma bailarina e a segurança de uma modelo. Inicialmente, ao final do dia, descalça, ele admirara-se com o desnível do seu abraço. A altura ideal para escutar o teu coração, dizia ela.

Isabel, despertada pelo toque fresco do vento, a pele arrepiada e os pelos dos braços eriçados como o estorno das dunas, retira sem aviso os pés das pernas de José e senta-se na toalha desconsolada.

-Vamos embora?

José não queria sair da praia sem actualizar a sua carta de marear. A zona desconhecida que avistara, virgem, tinha de ser conquistada. Mas receava o melindre. Deveria ignorar aquela ilha? Se ao menos o nadador-salvador içasse uma bandeira sinalizadora para si! Arriscou, de supetão, a pergunta, apontando os 2cm de pele enrugada a meio do pé direito, do lado de fora, perto da palma.

- O quê?! - questionou Isabel, com espanto. - Isto? É da vacina do BCG.

- No pé?! - admirou-se ele.

- Sim! Um episódio muito marcante da minha curta vida de bebé! Alguém que não sabia o que fazia. Tive imensa febre. O pezinho ficou no dobro. Possivelmente um abcesso! É assim que tenho estes bracinhos lindos sem cicatrizes! Como é que nunca reparaste neles, José?!

 

Tema da semana - Uma aventura/momento que te tenha marcado

(Publicado em 27/09/19 no blogue Palavras Cruzadas)

publicado às 18:23

 

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Pisco de peito ruivo (Erithacus rubecula)

- Foda-seeeee! Marta! Mas o que foi isso?

Óscar agarrava-se ao nariz dobrado sobre si mesmo. Aquela dor e o ardor que sentia na face esquerda confundiam-se. A rapariga, afogueada, imobilizara-se, as mãos sobre a boca numa oração, os olhos muito abertos a suplicarem desculpas:

- Amooorr – pronunciou, arfando, - amor.

Foi até ao quarto de banho a cambalear. A luz ligou-se e em frente ao espelho o jovem examinou-se. Os olhos lacrimejavam. Observou que pequenas gotículas de suor reluziam sobre a testa. Havia uma pequena mancha escura sobre a pele que cobre o osso zigomático ali onde a barba por fazer começava a desenhar-se. Decerto um pequeno corte que deixava o sangue aflorar. As unhas da sua mulher, pensou. E quando é que ele teria coragem para lhe dizer que detestava aquelas extremidades decoradas? A doce Marta ia todas as semanas à Julinha cuidar daqueles apêndices. Tinha orgulho naquilo. Aparecia-lhe com desenhos coloridos e vidrinhos lá colados. Mostrava-lhe aquela galeria de arte moderna como se fosse um happening. Tinham um acordo tácito: ele sorria às unhas exóticas, ela a cada nova tatuagem dele, que, juraria, a envergonhavam. Um futuro médico dermatologista com a pele coberta de desenhos. Não era adequado.

O seu cabelo estava alvoroçado. Queria tê-lo cortado para a Lua de Mel mas o tempo esgotara-se.

Leques de luz desenhavam-se na parede do quarto a partir dos candeeiros em mesinhas de cabeceira de mogno negro que ladeavam a cama. O espaldar alto estava escudado por um ninho de almofadas. Marta, transpirada, não mexia um músculo. Apenas os olhos viajavam no vazio como se em busca de algo aparentemente invisível mas que ela não duvidava estar ali. Talvez uma boa explicação para o que acabara de fazer.

Não fora o ar condicionado não se aguentaria pernoitar naquele hotel histórico. Que horas seriam? Da rua chegava ainda o ruído dos bares. Uma péssima ideia de viagem. Agosto. Calor. Multidões. Ruas sujas. Muito Tinto de Verano para empurrar a decepção. E o salmorejo que ainda corropiava no estômago.

Na palma da mão Óscar viu mais sangue. Aproximou-a. O que era aquilo? Pelos?! Sentiu a tesão crescer e apressou-se a abrir a torneira para passar água no rosto e regressar à cama.

Marta enrolou-se nele como uma aranha que envolve a presa numa teia.

- Desculpa, amor, - sussurrou, beijando-o. Mas com o vírus do Nilo todo o cuidado é pouco.

 

Tema da semana - O amor e um estalo

(Publicado em 20/09/19 no blogue Palavras Cruzadas)

 

publicado às 18:18

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Pardal - Comum (passarus domesticus)

 

O pai acordara novamente de rabo para o ar. O Luisinho ouvira esta expressão na boca de uma auxiliar do Jardim de Infância e, desde que a mãe lhe dissera para não dizer rabo, nunca mais ousou pronunciá-la. Estavam a tomar o pequeno-almoço, já vestidos para sair.

- Pai, sabes qual é a diferença entre um gafanhoto e um louva-a-deus?

- Bebe o leite antes que arrefeça, filho.

- Mas, pai, eu bebo sempre o leite frio, pai.

O pai segurava o pão integral com a mão esquerda e mastigava roboticamente cada dentada. A mão direita elevava a chávena almoçadeira à boca como a pá da máquina escavadora nas obras da rua da escola. O seu olhar andava longe.

- Bebe isso, filho. O trânsito está difícil junto da escola. Queres chegar de novo atrasado?

O Luisinho fitou o íman no frigorífico: “Não cresças. É uma armadilha.” Sempre que a mãe ia aos congressos internacionais, o pai ficava estranho. Desta vez perguntou-lhe o que ele tinha.

- Problemas, apenas problemas. Coisas dos adultos, filho. Bebe o leite, vá lá.

O Luisinho ficou intrigado. Coisas dos adultos? Durante o dia, na escola, o Luisinho também tinha muitos problemas. A professora projectava no quadro problemas de livros - ANA RECEBEU UM LIVRO NO NATAL. JÁ LEU 129 PÁGINAS. FALTAM 87 PÁGINAS PARA ACABAR DE O LER. QUAL O TOTAL DE PÁGINAS DO LIVRO?- e problemas gulosos - PARA A FESTA DE ANIVERSÁRIO A MÃE ENCOMENDOU 3 CENTENAS DE BRIGADEIROS E 5 DEZENAS DE QUEQUES. QUANTOS DOCES ENCOMENDOU A MÃE? Não era só o pai que trazia problemas para casa. Ele também: TENS UM ESTOJO COM 46 LÁPIS MISTURADOS E DESSES, 13 SÃO AZUIS. QUANTOS LÁPIS DE OUTRAS CORES GUARDAS NO TEU ESTOJO? Este problema era até um verdadeiro enigma porque o Luisinho nem tinha 46 lápis no estojo, apenas 12, um de cada cor.

Ao jantar, os dois sentados à mesa, de banhos tomados e roupões vestidos, o pai comunicou:

- A mãe regressa amanhã. Vou buscá-la de tarde ao aeroporto.

O Luisinho, olhos baixos na sopa, girava a colher no prato desenhando um círculo infinito.

- Come a sopa, filho. Vá lá.

- Está quente.

- Assopra, filho.

O Luisinho soprou e a sopa voou para a toalha. A cor de cenoura alastrou no linho cru.

- Luisinho! Andas impossível, filho! O que se passa?

- Problemas, apenas problemas, pai.

 

Tema da semana - Problemas, apenas problemas.

(Publicado em 13/09/19 no blogue Palavras Cruzadas)

publicado às 18:13

Como fui parar ao Desafio de escrita dos pássaros

por Belinha Fernandes, em 09.10.19

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Até há uns minutos não sabia que existia um blogue de nome Desafio dos Pássaros. A descoberta deve-se ao calor. Este escritório está quente do chão ao tecto. Não se aguenta apesar do vento morno que entra pela janela. A ventoinha do computador não pára de chiar, a cadela de ofegar e até o rato parece transpirar sob a palma da minha mão! É uma tarde imprópria para máquinas, todo o tipo de animais e humanos! O meu cérebro pediu um intervalo misericordioso e eu dirigi-me ao Blogger em busca de refresco sob a forma de palavras. No topo da Lista de leitura apareceu a Dona Redonda anunciado um desafio de escrita no dito blogue dos Pássaros, um desconhecido para mim, o que não espanta. Pertence ao charquinho dos batráquios, o meu fica-se pelo pântano mais antigo, o Blogger, de onde esta sua escrava raras vezes emerge para conviver em paragens mais verdes. Diz-se que nunca devemos tomar decisões de cabeça quente, talvez não me devesse ter inscrito no Desafio. Por outro lado, sinto que a decisão não foi tomada pela cabeça e antes pelo coração. Quem me conhece sabe o quanto adoro pássaros. E desafios. Nunca me propus tal: o tempo nunca chega. Mas nunca digas nunca. Um desafio dos pássaros soava-me bem mesmo que o meu cérebro amolentado mal conseguisse prever o futuro do meu irreflectido acto. Inscrevi-me sem pensar muito. De repente o meu cérebro antes tão entorpecido parece que voava. Dei por mim a pensar nas infinitas possibilidades que o desafio da escrita podia revelar: coisas frescas para ler todas as semanas, a descoberta de um novo bando, novas partilhas. Espreguicei as asas e enchi o papo de ar. Fiz-me ao Desafio dos Pássaros e manifestei o meu receio à passarada: “ 17 semanas. Muito milho para o meu papo.” A bem da liberdade, que nenhum pássaro se sente bem aprisionado numa gaiola, podemos desistir. Mas esta ave não gosta de desistir. Nem que perca as penas uma a uma, nem que fique careca como um pobre frango de aviário, esta ave há-de conseguir chegar ao fim. Ou então, não. Tombará de bico rombo sobre o teclado. RIP avesinha doida. É perigoso tomar decisões de cabeça quente. Mas isso só se vai saber daqui a muitos voos. Para já, prepare-se uma boa ração de sementes e água fresca que a viagem está quase a começar.

(Publicado em 06/09/19 no blogue Palavras Cruzadas)

Regras do desafio de escrita dos pássaros:

O texto não poderá ter mais de 400 palavras

Pode ser em prosa ou poesia

Pode ser real ou fictício

Deve ser publicado no teu blog na próxima sexta-feira, dia X às 15h.

O título deverá ser “desafio de escrita dos pássaros #X” seguido, se quiseres, do título que lhe queiras dar (pode ou não ser o tema, deixamos à tua consideração).

Deve ter a tag “desafio dos pássaros” (sem as aspas e escrito exactamente desta maneira)

O tema só será público no dia da publicação

 

Quem são os Pássaros - ler aqui

Desafio de escrita dos Pássaros - ler aqui

publicado às 17:59


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